Vocação
Histórias Vocacionais – Irmã Maria de Fátima Piai
IRMÃ MARIA DE FÁTIMA PIAI
Cidade: Capivari – SP
1ª profissão religiosa: 28/01/84
Profissão perpétua: 16/04/1989
Falar da própria vocação Religiosa é entrar no mistério do amor de Deus que age na história, sem saber porque sou escolhida entre tantas. Confesso que sou feliz. Nasci no seio de uma família de agricultores: sou a segunda filha dentre os cinco do casal Mário Piai e Maria Luiza Pavan Piai. Meus pais, pessoas de fé me ensinaram desde pequena que Deus age na história da humanidade. Hoje, olhando o caminho percorrido, vejo que desde criança aprendi a contemplar a natureza, a ter gosto pela oração e pelo trabalho. Um ponto fundamental que carrego como uma pedra preciosa é o amor à Palavra de Deus, cujas passagens Bíblicas, papai contava para nós, seus filhos, em forma de historinhas. Esta semente foi germinando com tamanha força que não perdeu seu vigor. Papai foi o catequista da família: no dia da minha primeira comunhão, havia um momento onde as crianças faziam o juramento sobre a Palavra de Deus.
Eu e meu irmão fomos escolhidos para este gesto. Houve um pequeno problema de ciúmes por parte de outra criança e tive que ceder o meu lugar. Minha mente gravou com tamanha profundidade este fato: do banco onde eu estava fiz um juramento de jamais me esquecer da Palavra de Deus. Portanto, a partir daquele dia, 31 de maio de 1968, a EUCARISTIA e a PALAVRA DE DEUS, fariam parte inseparável da minha vida. Acredito que aí, a semente vocacional foi plantada.
A vida oferece tantas surpresas sofridas onde a fé é testada. Comigo não foi diferente, na infância e adolescência passei por provas que somente a oração sustentou. Nesses momentos tive o apoio, amor e compreensão dos meus pais e irmãos. Rezava o terço todos os dias. Algo dentro de mim foi despertando que eu poderia me dedicar a este amor que me sustentava. Via tantas crianças, jovens e adultos que não conheciam, ou não tinham oportunidade de conhecer a força que vem de Deus. Em casa havia um quadro de Jesus Bom Pastor e eu não cansava de olhar pra Jesus que batia na porta, nascendo dentro de mim o desejo de abrir meu coração. Era algo que naquele momento não tinha resposta.
Deus preparou um meio para que eu compreendesse que aquele sonho se tornaria realidade levando-me a conhecer as Irmãs de Jesus de Bom Pastor – Pastorinhas que realizavam o meu grande desejo com seu carisma e missão. Fui acompanhada no discernimento vocacional durante três anos. Ingressei na Congregação no dia 03 de fevereiro de 1977, em Rafard/SP. No primeiro ano, foi muito sofrido, pois minha irmã, a quem sou muito unida, adoeceu. Talvez um dos motivos tenha sido a separação. Foi o primeiro momento de forte decisão entre dois valores importantíssimos para minha vida: a família de sangue e a minha vocação. Neste período, minha formadora Ir. Judite e a comunidade tiveram um papel fundamental de apoio e solidariedade. E isso me fez decidir para a vida religiosa, porém com uma ligação muito profunda com minha família. Morei três anos nesta comunidade, onde iniciei minha primeira experiência pastoral: na catequese, com a juventude e estágio em algumas fazendas açucareiras do município, me deparando com tanta injustiça que matava o ser humano em todos os seus aspectos: humano-social-político-religioso-cultural. Em seguida fui para Assis/SP, onde fiz o postulantado. Em fevereiro de 1982, ingressei no noviciado em São Paulo. Foi um período de forte discernimento, onde haveria de optar para sempre pela Vida Religiosa. Tive o privilegio de passar por momentos fortes de crises, de decisões, onde tudo era orientado pela oração.
Um ponto culminante foi num retiro, quando estava decidida a deixar a vida religiosa. Mas, para minha surpresa, saí fortalecida e com certeza de que Deus me chamava para segui-lo para sempre. “Deus testa quem Ele ama”. Fiz minha Primeira Profissão Religiosa no dia 28 de janeiro de 1984. Nos anos de 1983-1984, passei por uma experiência muito significativa, trabalhando na catequese, como responsável pela organização de um dos Núcleos do setor da Região de Osasco (Neste período Osasco pertencia a Arquidiocese de São Paulo como região). Aprendi a trabalhar com os coordenadores das Paróquias e comunidades e foi despertando em mim a necessidade de integrar as etapas da Dimensão Catequética; o gosto pela liturgia e pela Palavra de Deus crescia muito. Um outro ponto que fervilhava dentro de mim era o espírito Missionário dentro do Brasil. Nas minhas orações me colocava disponível nas mãos de Deus para servir em lugares difíceis.
Pela graça do Espírito Santo fui convidada para ir em missão à Maceió/AL. Vivi intensamente o serviço missionário. Permaneci em Maceió nos anos de 1985-1987. Acompanhava a Catequese em um dos setores; participava e vibrava com as CEBs; associação de moradores, Pastoral dos pescadores… Sentia-me um grão de areia diante de tantos desafios. Retornei a São Paulo para me preparar aos Votos Perpétuos, celebrando minha profissão definitiva no dia 16/04/1984. Não sabia que o tempo me preparava duras provas. Provas estas familiares, vocacional, de convivência no relacionamento, enfim, era a hora da purificação. Os valores que eu acreditava e lutava estavam sendo bombardeados por mil perguntas sem respostas. Deus colocou no meu caminho pessoas santas que me fizeram enxergar a vida com os olhos da fé, da generosidade, da compaixão e principalmente da verdade da minha própria história.
Deus me deu a graça da experiência profunda do seu amor, da sua misericórdia e do seu perdão. Nesta época minha família perdeu tudo o que possuía materialmente, e por fim a vida de meu pai e tantas outras perdas irrecuperáveis. Mesmo sendo irrecuperáveis, estas perdas me amadureceram e me tornaram firmes na certeza do amor de Deus que prova, mas não abandona. Em 1990-1993 fui transferida para uma comunidade pobre, no município de Ribeirão das Neves/MG – Bairro Venesa, conhecido como Bairro dormitório. Aí organizamos as pastorais e movimentos. Algo marcante era a juventude e a participação de homens e mulheres. A CEBs era bastante expressiva e a luta pelos direitos através das Associações de Bairros também. Retornei novamente para São Paulo, fazendo parte do Conselho Provincial e assumindo a formação inicial (Aspirantado) na comunidade da Vila Califórnia. Residi nesta comunidade por seis anos de 1994-1999.
Passei pela experiência de acompanhar as jovens no discernimento vocacional e as lideranças paroquiais na formação de liturgia, nos estudos bíblicos, no Conselho paroquial e no Setor. Nesta Paróquia, foi um período significativo de estar com as lideranças em momentos de crises na pastoral, dando apoio, fazendo caminho com eles. Iluminados pelo evangelho de Lucas implantamos a pastoral dos excluídos. Foi uma retomada no seguimento a Jesus. Em 1996, tive a graça de permanecer na Itália por cinco meses, para um Curso especial de formadoras, cujo tema era “FORMAR-SE PARA FORMAR”. Conheci a terra do fundador e o caminho de formação proposto pela Congregação.
Aprendi muito, rezei e aprofundei a passagem Bíblica “Tire as sandálias dos pés, a terra em que pisas é santa” (Ex 3). Foi um tempo exaustivo, mas fecundo. No ano 2000, fui convocada para abertura de uma comunidade em Pernambuco, no município de Tupanatinga. Área de missão! Saindo da agitação de São Paulo, vim para uma comunidade tipicamente rural: local sofrido pela seca e sem recursos financeiros, com uma população sedenta de evangelização. Iniciamos visitando as comunidades e despertando lideranças. Foi e está sendo uma experiência fortíssima de Deus. Além da missão pastoral paroquial, faço parte da equipe de coordenação diocesana de Catequese e Pastoral Vocacional (Diocese de Pesqueira/PE).
Sinto-me plenamente realizada nesta missão. Sou parte desta história e nela faço caminho, caminhando lado a lado, sendo exigente e maleável. Estou vivenciando fortes momentos de Deus no seguimento a Jesus Bom Pastor. Jovem, se você sente Deus te chamando não tenha medo, o mundo oferece tantas coisas boas, mas não oferece a plenitude do servir na gratuidade, no seguimento a Jesus, que é marcar presença na história, dando um sentido novo para o próprio existir. “Daí de graça, o que de graça recebestes”.
Ir. Maria de Fátima Piai