O CONCÍLIO E A LITURGIA
A Constituição Sacrossanctum Concilium inicia-se com esta declaração:
“O sagrado Concílio propõe-se fomentar a vida cristã entre os fiéis, adaptar melhor às necessidades do nosso tempo as instituições susceptíveis de mudança, promover tudo o que pode ajudar à união de todos os crentes em Cristo e, fortalecer o que pode contribuir para chamar a todos ao seio da Igreja. Julga, por isso, dever também interessar-se de modo particular pela reforma e incremento da Liturgia.” Com esta introdução, segue-se as grandes linhas orientativas do documento que consta de seis capítulos, com 130 artigos.
Grandes mudanças sobre a liturgia foi instauradas pelo Concílio Vaticano II com a publicação da Constituição Sacrosanctum Concilium, primeiro documento a ser votado e promulgado pelo Concílio Vaticano II em 04-12-1963. Não se tratou apenas de algumas mudanças no rito litúrgico, mas gerou uma nova mentalidade, uma nova teologia, e uma nova espiritualidade litúrgica.
Quero destacar alguns dos muitos ganhos da igreja com este documento:
- A Assembleia litúrgica torna-se expressão do ser igreja. A participação ativa de todo um povo sacerdotal porque, até então a liturgia era do domínio unicamente do clero. “Para que se obtenha esta plena eficácia, é mister que os fiéis acerquem da Sagrada Liturgia, sintonizem a sua alma com as palavras e cooperem com a graça do alto a fim de que a não recebam em vão… que os fiéis participem dela com conhecimento de causa, ativa e frutuosa”(SC,11)
- A liturgia como ação teologal, ou seja, a centralidade passou a ser a celebração memorial do mistério pascal. “A liturgia é tida como exercício do múnus sacerdotal de Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo peculiar a cada sinal, realizada a santificação do homem; e é exercido o culto público integral pelo Corpo Místico de Cristo, cabeça e membros” (SC.7). Houve uma restauração do ano litúrgico em torno da Vigília pascal e do Domingo, dia do Senhor.
- A devolução da Sagrada Escritura ao povo de Deus, dentro e fora da celebração litúrgica; a proclamação e interpretação da Palavra de Deus na liturgia no idioma de cada povo; “Presente está pela Sua Palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se lêem a Sagrada Escritura” (SC.7) A introdução dos ministérios litúrgicos não clericais: leitores, salmistas, acólitos, cantores, quando antes só havia coroinhas que serviam o padre.
Como a pastorinha ajuda o povo a celebrar melhor e com mais consciente a liturgia?
Apesar da liturgia ter tido um avanço a partir do Concílio Vaticano II – houve uma desaceleração nestes últimos vinte anos – esfriando o processo de seu desenvolvimento. Portanto, a nova mentalidade ainda não foi bem assimilada no ambiente eclesial. Falta a formação litúrgica integrada na catequese, nos movimentos de igreja, nas pastorais. Aí vem a missão das Pastorinhas.
Como primeiro passo não podemos deixar retroceder este processo da valorização do Povo de Deus como assembleia celebrativa que fomente a espiritualidade e mística da missão no mundo. Isto é, ajudar o povo a se conscientizar que, toda celebração litúrgica é também celebração da própria vida. Ajudar o clero e o povo a não supervalorizar o devocionismo, o sacramentalismo, o ritualismo que desviam a centralidade do mistério Pascal, atualizando em nossa vida o mistério que estamos celebrando. Não se preocupar em atrair as multidões com espetáculos, mas com participação ativa e comprometedora.
Outro ponto significativo é a centralidade no mistério pascal na celebração de todos os sacramentos. Pois é muito específico da Pastorinha a centralidade em Jesus Cristo Pastor conforme afirma o nº 05 de nossa Regra de Vida. Dizia-nos Padre Alberione: “Vós não imitais um aspecto da vida do Salvador, mas toda a sua vida que é Caminho, Verdade e Vida. Sois as irmãs que participam realmente da vida pública de Jesus, ou melhor, sentis a necessidade de condividir seu ministério salvador.” (As fontes, pg.24)
É específico da Pastorinha a formação do povo de Deus em todos os níveis. Formar um povo consciente e competente para agir na sociedade como fermento na massa. Segundo o OCG nº 66 “A nossa missão de animadoras da comunidade local tem sobretudo a função de fermento”. A maioria do cristãos que vão à missa não acompanha e não recebe formação para ser concretizada no dia a dia, inclusive nas relações sociais e políticas, de acordo com aquilo que celebramos.
É também missão das Pastorinhas fomentar e animar os lugares onde se tem uma vida litúrgica bem vivenciada, com celebrações dominicais da Palavra, celebrações do Tríduo Pascal, celebrações da reconciliação, ofício divino das comunidades, vigílias de oração, exercício da Lectio Divina… coordenadas por leigos e leigas.
Quando Pe. Alberione nos fala das Obras de Culto, ele se referia à Pastoral litúrgica que está em íntima ligação com a pastoral da Palavra. Em uma de suas pregações sobre “Viver o espírito litúrgico”, padre Alberione diz às Pastorinhas. “Na liturgia, a Pastorinha tem uma parte especial. Trata-se de uma tarefa mais direta e próxima do Bom Pastor, o que não acontece com outras congregações. As Pastorinhas estão todas a serviço do culto. A catequese é o ponto de partida. A meta é levar as pessoas a viverem a liturgia. Não deveis perder-vos em coisas acessórias. Deveis encaminhar as pessoas para a vivência dos sacramentos. Só a essa altura vossa obra estará cumprida. “(20/03/1957)
Como ajudar o povo ter maior conhecimento e amor pela celebração litúrgica?
No tocante à liturgia, antes de tudo, celebrar em pequenas comunidades, onde é possível a relação pessoal, a partilha das alegrias, das esperanças, das tristezas e angústias, onde é possível meditar comunitariamente a Palavra de Deus proclamada, interpretando-a dentro do contexto vital daquela comunidade, vivenciar a partilha de vida, de bens, de informação e formação, atentos ao que acontece no mundo, atentos aos sinais do Reino de Deus na realidade local, nacional, mundial. Comunidades vivas construídas em torno da Palavra e da Liturgia. (cfr. RdV. 5 e 13)
- Promover formação litúrgica para que os fiéis participem ativamente do mistério que se está celebrando, possam entender a cerimônia sacra, imbuídos do espírito da sagrada escritura e colabore na realização do mesmo (SC. 19.16).Preparar cada celebração com a reflexão do texto bíblico e distribuição das atividades, possivelmente envolvendo os participantes.
- Valorizar a presença e atuação da mulher na igreja, como liderança competente, capaz de dinamizar a ação litúrgica da igreja. Em muitas comunidades paroquiais se não fossem as mulheres, não existiria a presença de igreja naquele local.
- Favorecer diálogo religioso com outras igrejas A Igreja deve crescer na atitude de escuta, diálogo, serviço. Participar e motivar a participação na semana da Unidade dos Cristãos. Fazer um trabalho social ecumênico ou inter-religioso, voltado para os pobres e necessitados, unido à vivência litúrgica.
Para refletir:
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- Como você tem vivenciado a liturgia? A escuta da palavra, os sacramentos e a vivência comunitária te ajudam a enfrentar com mais serenidade e força as dificuldades da vida?
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- O seu conhecimento a cerca da mística litúrgica lhe ajuda a celebrar com mais consciência a sua fé e a deixar repercutir os frutos da graça de Deus no seu dia a dia?
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- O que você acha que poderia ser feito para ajudar o povo a vivenciar com maior profundidade as celebrações litúrgicas?
Como Pastorinhas, devemos “Caminhar com a Igreja” conforme a orientação que nos deixou nosso fundador, por isso justifica o nosso esforço na aplicação do Documento Conciliar como parte de nossa missão.
Irmã Bertila Picelli
Bibliografia:
Constituição Sacrossanctum Concilium
OCG Orientação do Capítulo Geral.