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Ecologia Integral e uma visita às entranhas da terra
Notícia vinda de Adrianópolis/PR
Nos dias 21 e 22 de abril de 2024, a Irmã Petronella M Boonen – Nelly, da Congregação das Irmãs Servas do Espírito Santo, esteve no Vale do Ribeira/PR, representando a VIVAT Internacional, juntamente com a Comissão da CNBB – Comissão Especial de Ecologia Integral e Mineração.
Após essa visita, voltou para São Paulo tão impressionada com o que viu e ouviu dos atingidos e ameaçados pela mineração aqui em Adrianópolis/PR, que sofreu um apagão. Caiu e se machucou. Foi parar na UTI. Recuperada escreveu este texto inquietante, que, nós Irmãs de Jesus Bom Pastor – Pastorinhas, em Adrianópolis partilhamos com vocês.
Ir. Maria Sueli Berlanga, SJBP
“ Ecologia Integral e uma visita às entranhas da terra
COLUNISTAS, PETRONELLA M BOONEN – NELLY
09/05/2024
Tive oportunidade de participar de uma missão da Comissão de Ecologia Integral da Conferência dos Bispos do Brasil com membros de Vivat International Brasil.
O objetivo era levar a proximidade da Igreja às comunidades que lutam contra a mineração e as barragens em territórios comunitários. O desejo era conhecer os gritos das pessoas, escutá-las para, juntas, fazermos sínteses e avaliarmos como a Igreja pode colaborar na busca de alternativas ou na resistência.
Foram dias intensos, sentindo-me confrontada com um animal feroz que devora a terra, come montanhas, intoxica rios, contamina o ar, emite barulho permanente e espalha uma poeira finíssima e maligna por toda parte.
No final do segundo dia, eu não conseguia dormir. Virava para lá e para cá, sentindo um peso nas minhas entranhas. Era por demais dolorosa a consciência do que estamos fazendo com a terra.
Tive a sensação e a percepção de ser terra; senti, nas minhas vísceras, a violação da Mãe que nos pariu a todos. Ressenti a dor de sermos filhas mal-agradecidas, que estupram a própria mãe, arrancam-lhe a vida e a deixam moribunda, jogada à beira do caminho e, apressadas, assaltam a próxima vítima – montanha, caverna, rio ou campo -, em nome do crescimento econômico e do aumento do Produto Interno Bruto.
Quanto será o suficiente? Quando cairemos em nós? Quando seremos maduras e inteligentes o suficiente, para assumir responsabilidade pelos nossos atos e pela possibilidade de vida para as gerações futuras?
Chegando em casa, depois de 3 dias de missão, experimentei um apagão. Bati a cabeça com tal força que tive uma hemorragia no cérebro e alguns ossos da face quebrados. Fiquei uma semana no hospital, sem ver a luz do dia, internada nos labirintos da medicina moderna.
O que aprendi com isso? Continuo depurando os sentidos do que vivenciei. Mas uma pergunta não me sai da mente: quando aprenderemos que tudo é dom, frágil e interdependente? Será que precisa chegar o tempo, “quando o último peixe estiver nas águas e a última árvore for removida da Terra, só então os humanos perceberão que não são capazes de comer seu dinheiro”?
Nesses dias, minha súplica é que possamos refinar nossa escuta, para captar os sinais das entranhas da terra e das próprias vísceras, para reorientarmos nosso estilo de vida”.
Por volta de 31 anos atrás eu e minha geração aprendíamos na escola o alto peso e necessidade da reciclagem do lixo produzido. Nos livros de Ciências continham as imagens de fábricas liberando poluentes pelas chaminés. Nas práticas sociais comuns, aprendíamos à não jogar pela janela do carro o papel de bala e a goma de mascar. Recordação clara e viva da orientação para não desperdiçar água, não poluir rios, tomar banho rápido, lavar a louça com a torneira fechada e se … e se …. e se fosse à praia, que não deixasse sujeira na areia: pacote de salgadinho, frasco de refrigerante e embalagem de picolé.
É … triste é … constatar que eu e minha geração aprendemos isso tudo ali atrás e pouco, muito pouco, colocamos em prática. Quem sabe, isso ou aquilo foi criado e implantado(alguns projetinhos, certamente, muitos já estão em estado “obsoleto”). Quem sabe, foram plantadas “algumas” árvores de reflorestamento. Quem sabe, foi adotada a prática de várias lixeiras com cores diferentes(que na prática mesmo, servem muitas vezes só para dizer que está-se dentro das normas vigentes, ou seja, cumprindo “ordem” por lei e, não necessariamente, por CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL E SAÚDE PLANETÁRIA).
Quisera que todas aquelas gravuras que recortávamos das revistas velhas e colávamos nas folhas de cartolina e papel pardo, enfeitadas com canetinhas hidrocor e adornadas com purpurina e sucata, não tivessem servido apenas para atingir a nota na disciplina de Ciências. Quisera! Quisera que não tivéssemos deixado o aprendizado somente nos trabalhos avaliativos que ficaram pendurados com prendedor de roupa, no barbante da parede da sala de aula …
MAS, como diz um lindo canto que aprendi: “(…)existe um tempo pra cada coisa, existe um momento debaixo do céu, existe um tempo pra cada coisa. Tempo pra plantar, tempo pra colher(…)” base Ecl 3,1 – Tempo para eu e minha geração darmos as mãos para a atual geração, contar para eles que não fomos alunos assim tão exemplares(como gostamos de estufar o peito e falar para nossos filhos e sobrinhos) e junto deles colocarmos, minimamente, “em dia” o que deixamos parado nas paredes das escolas do século passado. Estamos atrasados! … afinal o próprio Criador está levando a culpa pelos flagelos que causamos na Casa de todos …