Um dos documentos fundamentais do Concílio Vaticano II (1962-1965) é a constituição dogmática Dei Verbum (A Palavra de Deus ou a Revelação Divina), promulgada na oitava sessão conciliar, no dia 18 de novembro de 1965. É um documento breve, mas rico em doutrina e orientações pastorais, promovendo uma verdadeira conversão da Igreja católica a respeito à Palavra de Deus, a Bíblia.
O documento nos diz: “… Nos livros sagrados, com efeito o Pai vem carinhosamente ao encontro de seus filhos e com eles fala. E é tão grande o poder e eficácia que se encerra na Palavra de Deus, que ela constitui sustentáculo e vigor para a Igreja, e, para seus filhos, firmeza na fé,alimento da alma, pura e perene fonte da vida espiritual.” ( DV n. 21)
Na verdade, o Concílio inspirado pelo Espírito Santo devolveu à Palavra de Deus o lugar central que ela ocupa na vida dos cristãos. Diferente do que acontecia antes do Concílio, quando os fiéis leigos não tinham acesso à Bíblia, e, nas celebrações, a Palavra de Deus era proclamada em latim e a maioria das famílias tinham acesso somente à História Sagrada, a partir da qual os pais falavam para os filhos sobre Deus.
A partir do impulso do Concilio, na América Latina inicia-se um processo de renovação. É um verdadeiro Pentecostes e as Assembleias Episcopais, consagram uma nova maneira de ver e acolher a ação reveladora de Deus no meio do povo.
A partir da metade dos anos 60 com a ditadura militar, frente a situações de repressão, injustiça, empobrecimento do povo… inicia-se um trabalho de base no meio dos pobres e surgem as Comunidades Eclesiais de Base e neste trabalho, foram surgindo os Círculos Bíblicos, estes se expandiram rapidamente. Eles foram o nascedouro de muitas comunidades, porque o primeiro fruto da Palavra é reunir as pessoas e criar comunidades. O jeito de ler a Bíblia, nos círculos bíblicos e/ou grupos de famílias, segue a metodologia que está no Evangelho de Lucas, na caminhada dos discípulos de Emaús (Lc. 24,13-35) Este método é sugerido por Jesus e tem três passos:
· Partir da realidade- aproximar-se das pessoas, escutar sua realidade
· Usar o texto da Bíblia – com a ajuda da Bíblia, iluminar a situação e transformar a cruz, a morte, em sinal de vida, esperança
· Celebrar e partilhar em comunidade – criar um ambiente orante de fé e fraternidade, onde possa atuar o Espírito que faz entender o sentido do que disse Jesus.
O resultado da leitura da Bíblia é: fazer a experiência viva de encontro com Jesus e do seu Espírito no meio de nós, onde o discípulo missionário busca seu alimento. O Papa Bento XVI no discurso da Conferência de Aparecida nos fala: “O discípulo, fundamentado assim na rocha da Palavra de Deus, sente-se impulsionado a levar a Boa Nova da salvação a seus irmãos… Com efeito o discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro”.
A partir da Conferência de Aparecida, os Bispos sentiram o forte apelo do Espírito para que a Palavra de Deus seja a alma de tudo o que somos, fazemos, de toda a missão, por isso assumiram como Igreja a Animação Bíblica de toda a Pastoral, porque a Palavra anima, nutre a vocação, a espiritualidade de todo discípulo missionário, e nos convocam a construirmos uma rede de comunidades, pequenos setores onde todos possam fazer a experiência com a Palavra de Deus em pequenos grupos, sejam estes círculos bíblicos, grupos de família, através da Leitura Orante, com o seu método consagrado:
· O que o texto diz.
· O que o texto diz para mim, para nós.
· O que o texto me faz dizer, ou nos faz dizer a Deus.
Esse sopro renovador do Espírito, vindo após o Concílio, hoje, como nunca nos convoca a fortalecer de novo os pequenos grupos em torno da Palavra. Aqui na inserção pastoral onde atuo no momento, Paróquia Santa Rita de Cássia, Campo Grande-MS, a partir dos apelos da Igreja assumimos como prioridade a setorização, isto é, pequenos grupos que se reúnem para escutar a Palavra, no método da leitura orante e fazendo a experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo para ajudar a construir uma comunidade orante, fraterna e participativa de discípulos missionários para que todos tenham vida.
Para refletir:
v Como estamos vivendo a dimensão da Palavra, em nossa realidade pessoal e comunitária, depois de 50 anos do Concílio?
v O que precisamos assumir pessoalmente e comunitariamente?
Irmã Olma Rotava, Pastorinha
Bibliografia:
Constituição Dei Verbum
Documento de Aparecida
Documento da CNBB nº 97